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  • Dra Flavia do Vale

Entenda a polêmica sobre a vacina do COVID AstraZeneca em gestantes

No início desta semana, a Anvisa recomendou a suspensão do uso da vacina da AstraZeneca/Fiocruz contra a Covid para gestantes por causa do caso de reação grave em uma grávida do Rio que ainda está sendo investigado. Apesar de efeitos graves e potencialmente fatais, a Coordenadora de Obstetrícia da Maternidade do Hospital Icaraí, Dra. Flávia Valle, afirma que a ocorrência desses efeitos colaterais é extremamente rara.


A médica ressalta que, até o momento, os benefícios da vacina superam os riscos da imunização, visto que a possibilidade de se desenvolver trombos em decorrência da Covid-19 é muito maior. Por isso, segundo ela, ainda está mantida a recomendação pela continuidade da vacinação para gestantes com os imunizantes Coronavac e da Pfizer.



A medida de prevenção se deu devido a um caso de gestante que desenvolveu efeito adverso grave e que, supostamente, teria relação com a vacina. O caso ainda está sendo investigado pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. A investigação terá como base o histórico de saúde da paciente e visa a analisar se é possível estabelecer relação entre a aplicação da vacina e o efeito adverso.



A formação de coágulos como efeito colateral da vacina AstraZeneca foi incluída na bula do imunizante, mas é um evento adverso considerado muito raro. Aliado a essa situação está o fato de a bula da AstraZeneca não incluir as gestantes como potencial público-alvo da vacina, como diz a Anvisa na nota divulgada na noite de segunda (10).



Na entrevista ao A Seguir: Niterói, a coordenadora de Obstetrícia da maternidade do Hospital Icaraí explica a importância da vacinação para conter o avanço de sintomas graves e até letais da doença.



- O risco de trombose associado à COVID-19 varia de 30 a 70% das pessoas que são admitidas em unidades de terapia intensiva. Para alguns indivíduos, o risco de morrer ou desenvolver complicações graves da Covid supera substancialmente o risco de obter quaisquer complicações após a vacina - alertou.



Confira a entrevista na íntegra abaixo:



A SEGUIR: NITERÓI: Há algum caso de óbito ou complicação em decorrência da Astrazeneca em gestantes que residem em Niterói, especificamente?



Dra. Flávia Valle: A Anvisa recebeu na última semana uma notificação feita pelo próprio fabricante da vacina Oxford/AstraZeneca/Fiocruz, sobre a suspeita de um evento adverso grave em uma gestante. Ela tinha 35 anos, estava com 23 semanaS de gestação e apresentou, após receber a primeira dose da vacina, um acidente vascular cerebral hemorrágico (AVC) com plaquetopenia (baixa de plaqueta), que culminou no óbito da gestante e do bebê. Estão sendo avaliados a relação entre a vacina e o evento e diversos aspectos, como dados sobre a paciente, sua história clínica, dados de exames laboratoriais, bem como sinais e sintomas apresentados após a administração da vacina.



Quais são os efeitos colaterais mais comuns da Astrazeneca em gestantes?



Os efeitos colaterais mais comuns incluem sintomas leves a moderados de um ou mais, como, por exemplo, dor de cabeça, fadiga, dores musculares ou articulares, febre, arrepios e náuseas, dor e irritação no local da vacina.



Há alguma explicação para a Coronavac e Pfizer não causarem esses efeitos?



Na verdade ainda não há evidência científica concreta de que a vacina seja a causa desse eventos de trombose e plaquetopenia. De acordo com a AstraZeneca, dos milhões de pessoas que já receberam a vacina até agora, ocorreram poucos e raros eventos graves. Isso é muito menor do que seria esperado que ocorresse naturalmente em uma população geral deste tamanho e é semelhante em outras vacinas Covid licenciadas. Além disso, os eventos graves causados pela Covid seriam muito mais frequentes e comuns do que os efeitos adversos da vacina.



Por que o risco de se desenvolver trombose após a aplicação da vacina de Covid?



Os coágulos sanguíneos podem causar problemas que variam de leves a fatais. Se um coágulo bloqueia o fluxo sanguíneo em uma veia ou artéria, o tecido normalmente nutrido por esse vaso sanguíneo pode ser privado de oxigênio e as células dessa área podem morrer.



Algumas pessoas infectadas pela Covid desenvolvem coagulação sanguínea anormal. Elas desenvolvem uma resposta inflamatória massiva, que libera inúmeras citocinas que aumentam e ativam os fatores de coagulação no sangue. Logo, muitos pacientes, principalmente aqueles com a forma grave da doença, desenvolvem coágulos sanguíneos, incluindo coágulos em pequenos vasos, trombose venosa profunda nas pernas, coágulos nos pulmões e coágulos que causam derrame nas artérias cerebrais.



Isso tem acontecido mesmo que esses pacientes estejam recebendo medicamentos para afinar o sangue, como a heparina, para prevenir a formação de coágulos assim que chegam à UTI. Essa coagulação relacionada à Covid geralmente não responde bem aos métodos de prevenção padrão e, em alguns casos, aos tratamentos padrões, mesmo com altas doses de anticoagulantes. Mas em gestantes isso é ainda pior, pois a gestação é um estado onde essa cascata de coagulação já está alterada e mais responsiva.



A bula atual da vacina contra Covid da AstraZeneca não recomenda o uso da vacina sem orientação médica. Sendo assim, qual a importância da análise individual de cada paciente?



Qualquer forma de tratamento médico acarreta riscos, mas, em muitos casos, estes são superados pelos benefícios. Recomendamos que as pessoas sejam vacinadas para conter a propagação do vírus que causa Covid-19, exceto em circunstâncias muito específicas. Já sabemos que alguns grupos de pacientes têm um risco maior de desenvolver a forma grave da doença.



Outra coisa a se considerar é o risco associado ao não recebimento da vacina. Por exemplo, o risco de trombose associado à Covid varia entre 30 a 70% das pessoas que são admitidas em unidades de terapia intensiva.



Logo, individualização dos casos passa por uma balança entre os riscos de desenvolver efeitos colaterais da vacina, que teoricamente são baixos, comparados aos riscos de pegar o Covid e de evoluir para uma forma grave com complicações até fatais.



Para alguns indivíduos, o risco de morrer ou desenvolver complicações graves da Covid supera substancialmente o risco de obter quaisquer complicações após a vacina.



Por recomendação da Anvisa, grávidas só podem ser imunizadas com Coronavac e Pfizer, mas nenhuma das duas está disponível em Niterói para aplicações da primeira dose. Quais as principais complicações que uma gestante pode ter caso se contamine pela Covid?



Estudos indicam que as grávidas infectadas com o vírus SARS-CoV-2 enfrentam um risco significativamente maior de complicações maternas e neonatais graves em comparação com aquelas sem o vírus. A grávida tem um maior risco de parto prematuro, pré-eclâmpsia, infecções, admissão em UTI e até morte.



Os recém-nascidos de mulheres infectadas também apresentavam risco quase três vezes maior de complicações médicas graves, como internação em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, principalmente devido ao parto prematuro.


https://www.aseguirniteroi.com.br/post/médica-sobre-suspensão-da-vacina-para-grávidas-risco-da-covid-é-muito-maior


*Flávia Valle tem graduação em Medicina pela Souza Marques (2002), residência médica em Ginecologia e Obstetrícia (2005) e em Medicina Fetal (2006) pelo Instituto Fernandes Figueira, mestrado em Ciências Médicas pela Universidade Federal Fluminense (2008).


Atualmente é sócia e proprietária da clinica Plena Ultrassonografia e coordenadora da Obstetrícia do Hospital Icaraí/Perinatal.





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